Nova York, a Lei Seca e Cosa Nostra

Em Nova York, a lei seca foi uma farsa mais que em outros lugares. Em 1922, havia pelo menos 5000 mil estabelecimentos que serviam bebidas ilegais na cidade e, em 1927, mais de 30.000 mil ˗ o dobro do que havia na cidade antes do início da Lei Seca; e a Mafia tirava o proveito disso!

Só na rua East 52 eles eram 38, de acordo com o escritor Robert Benchley ˗ e tudo isso sem falar de clubes noturnos elegantes como o Stork Club, inaugurado em 1927 por um contrabandista de bebidas do Oklahoma chamado Sherman Billingsley, com dinheiro fornecido por Frank Costello.

O Stork Club, no qual o famoso colunista Walter Winchell sentava˗se para observar o cenário todas as noites da semana, só fechou uma única vez em toda sua história ˗ ou seja, uma vez a mais que a boate MacSorleyʹs, em Greenwich Village, ponto predileto de políticos e policiais.

O MacSorleyʹs sequer fingiu mudar a sua famosa cerveja para a “quase” cerveja permitida. Só continuou fazendo o que sempre fizera, bem ali, às claras.

Veja também: 14 Fatos Curiosos sobre a Era da Proibição

O que Nova York também tinha, é claro, eram 17 mil policiais municipais apoiados por 3 mil policiais estaduais, 113 juízes do Supremo Tribunal e 62 promotores do condado. Também tinha agências federais, sem falar de centenas de fiscais da Lei Seca. Mas o sistema jurídico e policial era todo tão corrompido pelo volume imenso de dinheiro dos contrabandistas e donos de casas noturnas que eram raríssimos processos bem˗sucedidos contra qualquer um dos grandes participantes.

De qualquer modo, nenhum apoio vinha do gabinete do prefeito, ocupado até 1929 por Jimmy Walker, um belo exemplo de vendedor de influências e político em causa própria, integrante do Tammany Hall, a sociedade do Partido Democrata que, durante décadas, dominou a política nova˗iorquina, e pouquíssimo viria de Al Smith, o governador do estado que achava a Lei Seca uma bobagem e não fazia segredo disso.

O Poder da Cosa Nostra em Nova York

O resultado foi que todo mundo entrou na dança e num baile cada vez mais controlado pela quadrilha que se tornaria a versão nova˗iorquina da Cosa Nostra.

Estivadores, pescadores, policiais, juízes e motorista de táxi, todos conseguiam molhar o bico: não só na bebida que vendiam, mas também no profundo lago de dinheiro que logo transbordou das margens da decência.

Mais tarde, Lucky Luciano gabou-se dos banqueiros que conhecia, das festas elegantes a que era convidado na propriedade dos Whitney, em Long Island e das entradas que arranjou no mercado negro para a luta entre Jack Dempsey e Luis Angel Firpo em 1923 e que distribuiu a todos os amigos da alta sociedade.

Ao mesmo tempo, como declarou mais tarde, além de controlar todas as delegacias de polícia da cidade, ele também mandava o seu contador entregar pessoalmente vinte mil dólares por mês ao comissário de polícia Grover A.Whelan. Quando Whelan foi gravemente atingido pela quebra da bolsa de Wall Street, FrankCostello emprestou 35 mil dólares para ele “se endireitar”.

Os Efeitos da Lei Seca 

Houve alguns pequenos benefícios que chegaram de Nova York e outras cidades em consequência da Lei Seca: o fato de mulheres serem bem recebidas em bares que vendiam bebidas ilegais, depois de, em geral, serem vetadas nas casas noturnas, e a descoberta do coquetel, inventado para disfarçar o gosto ruim do álcool disponível.

Mas o lado negativo pesava muito mais que o positivo, e o mais negativo de todo foi que, em certo sentido, os Estados Unidos perderam a inocência. Desafiar a Lei Seca virou moda entre estudantes, melindrosas, classe media respeitável, como expressão de liberdade pessoal, enquanto os bandidos que, nos bastidores forneciam os meios para desacatar a lei tornavam – se, na verdade, heróis românticos.

Em outras palavras, havia conivência não só entre o crime a política como também o crime e a própria sociedade. A Lei Seca, como já disse o critico Karl Kraus sobre a psicanalise, transformou-se na doença na qual pretendia ser a cura.

Essa lição os Estados Unidos deveriam ter levado para as futuras campanhas internacionais contra o consumismo e contra as drogas, mas o Pais nunca aprendeu.

E a Máfia, mais uma vez, mostrou-se a beneficiária. 

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