A Era de Ouro do Tráfico de Drogas: Como Metanfetamina, Cocaína e Heroína se Moveram pelo Mundo Todo

Diplomatas e oficiais top de linha dos governos ao redor do globo se reuniram nos quarteis das Nações Unidas em Nova York para discutir o que fazer a respeito do problema das drogas. No decorrer de quatro dias e discussões diversificadas, os dignitários em assembleia juraram tomar uma postura mãos compreensiva do que em anos passados para com a questão – porém também decidiram declarar guerra às drogas.

O “documento de resultados” adotado durante a seção especial da Assembleia Geral das N. U. (UNGASS – sigla em Inglês) conclama que países “previnam-se e combatam” crimes relativos a drogas, por meio de romperem com “o cultivo ilícito, a produção, a fabricação e o tráfico” de cocaína, heroína, metanfetamina, além de outras substâncias banidas pela lei internacional. O documento também reafirmou o “comprometimento irresoluto” das N. U. em “providenciar a redução e medidas relacionadas”.

Ainda de acordo com dados próprios das N. U., a abordagem de luta orientada a suprimento contra o tráfico de drogas falhou em proporções épicas. Em maio passado, o Escritório acerca de Drogas e Crime das Nações Unidas (na sigla em Inglês, UNODC) expediu seu Relatório Mundial de Drogas, o qual mostra que — apesar de bilhões de dólares gastos na tentativa de erradicar colônias ilícitas, apreender cargas de drogas e de prender traficantes — mais pessoas agora do que antes estão entrando em estado de êxtase.

O UNODC estimou de modo conservador que em 2013, o ano mais recente pelos dados disponibilizados, 246 milhões de pessoas ao redor do mundo, ou 1 em cada 20 indivíduos entre as idades de 15 e 64, usaram alguma droga ilícita, um aumento de 3 milhões de pessoas sobre o ano passado. De modo ainda mais alarmante, 27 milhões de pessoas foram caracterizadas como “usuários de drogas problemáticos”. Apenas um em cada seis desses usuários problemáticos teve acesso a qualquer tipo de tratamento para o vício.

Enquanto isso, em uma mesa redonda sobre crimes e lavagens de dinheiro relacionados às drogas, constou na agenda que enquanto os tratamentos de drogas permanecem sem mudança, o crime organizado vem mantendo o ritmo par a par com a expansão da economia global: “Avanços na tecnologia, nos transportes e nas viagens contribuíram para aumentar a eficiência e a rapidez da economia global. Eles também oferecem eficiência semelhante ao business das redes do tráfico. ”

Em outras palavras, a globalização tem gerado uma explosão no tráfico de drogas. Mais de 420 milhões de navios atravessam os mares todos os anos, transportando 90% da carga mundial. A maioria carrega bens legítimos, mas as autoridades não conseguem inspecionar a todos e alguns são usados para contrabandear drogas — ou, de forma igualmente importante, os produtos químicos usados para fabricar metanfetamina e processar, por preço baixo, folhas de coca e papoila em cocaína e heroína. Os aviões, submarinos, lanchas, caminhões, túneis — considerados como um todo, os sistemas usados para mover drogas ilegais em todo o mundo compreendem uma rede logística provavelmente maior do que a Amazon, o FedEx e o UPS combinados.

A maneira, precisamente, como essas cargas ilícitas são transportadas ao redor do globo está em constante mudança.

Novas rotas surgem ao passo que as autoridades as tentam reprimir, novas leis surgem, guerras irrompem e o clima muda. Durante UNGASS, a agência de notícias VICE News falou com os oficiais do UNODC do México e do sudeste da Ásia, bem como com expertos autônomos em crime organizado na América Latina, a fim de aprender sobre as últimas tendências determinantes de como as drogas seriam contrabandeadas ao redor do globo.

Além disso, ainda coamos informações a partir do já mencionado relatório do UNODC, o relatório de Estratégia para o Controle Internacional de Narcóticos do Departamento Estatal dos EUA, do relatório da Casa Branca de Estratégia para o Controle Nacional das Drogas, e a partir de variadas outras fontes.

Eis o que depreendemos sobre a era de ouro do tráfico de drogas da atualidade.

Cocaína: as Guerrilhas e o Ouro

Em 1998, a última ocasião em que as N. U. reuniram forças especiais para discutir a política sobre drogas, a meta estabelecida foi a “eliminação ou significante redução do cultivo ilícito da planta de coca, da planta Cannabis e da papoila de ópio ao ano de 2008 ”.

Fundados em grande parte nos EUA — o maior produtor mundial de cocaína — a Colômbia e o Peru têm expendido décadas e muitos dólares pulverizando veneno nos campos de fazendeiros empobrecidos ou de campesinos, os quais voltaram-se para o cultivo de coca devido a seu valor ser significativamente maior que o de outros tipos de colônia. A de coca também tem despertado conflito em ambos os países. As guerrilhas do Caminho Brilhante (Shining Path) ainda controlam o território rico em coca na região remota de VRAE do país; enquanto as guerrilhas das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) na Colômbia na Colômbia financiaram a insurgência mais longa do hemisfério ocidental com lucros do tráfico de drogas.

Enquanto estimativas oficiais com pouca frequência ponham o Peru à frente da Colômbia na produção geral de cocaína, a terra natal de Pablo Escobar recuperou a posição do topo após sua saída do ó branco ter aumentado em 44 por cento, no ano passado. Uma multiplicidade de fatores estão por detrás dessa insurgência, incluindo um acordo de paz entre o governo da Colômbia e o das FARC; e, de modo bastante estranho, o preço do ouro.

A Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional expediu um relatório que ligou o Plano Colômbia — A campanha apoiada pelos EUA que financiou a erradicação de cultivos de coca e os paramilitares para combaterem às FARC e ao ELN (Exército de Libertação Nacional), outro grupo guerrilheiro — à ascensão da mineração ilegal de ouro. A guerra contra as drogas aumentou o custo de se fazer negócios para guerrilheiros, narcotraficantes e camponeses, que mudaram para o ouro como uma alternativa mais segura e lucrativa à coca, disse a Iniciativa Global.

“Esses grupos rapidamente perceberam que assumir o controle de grandes áreas de terra (distantes da atenção do governo) e dominar as empresas que extraíam dessa terra lhes permitiria gerar maiores margens de lucro com risco muito menor”, observou o relatório. “A mudança de estratégia dos grupos de narcotraficantes provou-se tão bem sucedida que no Peru e na Colômbia — os maiores produtores de cocaína do mundo — o valor das exportações ilegais de ouro agora excede o valor das exportações de cocaína ”.

De acordo com James Bargent, jornalista e analista de Medellin especializado em crime organizado colombiano, a avaliação da Iniciativa Global é exata. Em declarações à VICE News após uma viagem às áreas produtoras de coca na região de Antioquia, Colômbia, disse que a queda dos preços do ouro combinada com a iminente desmobilização dos grupos guerrilheiros levou a uma colheita de coca.

“Pode-se rastrear a mineração ilegal de ouro e coca”, disse Bargent. “Quando as forças de erradicação estavam enlouquecidas e os aviões de vigia estavam pulverizando em toda parte e apertando o cerco contra os fazendeiros, os preços do ouro atravessaram o ‘teto’, e muitos fazendeiros passaram à mineração. Agora temos o inverso acontecendo. O governo está aplicando duras medidas sobre a mineração e os preços não são tão altos assim, de modo que é menos arriscado alternar à coca. ”

Os guerrilheiros estão profundamente envolvidos no comércio de cocaína: Em novembro, o exército colombiano quebrou um complexo da selva que pertencia ao ELN com um laboratório que era supostamente capaz de produzir sete toneladas de pó por mês. Outros relatórios indicam que a organização criminosa mais poderosa do país, os Urabeños, está se preparando para assumir a produção de cocaína após os guerrilheiros abaixarem suas armas como parte do acordo de paz. Mas os guerrilheiros não estão desistindo de seus negócios sem lutar — os combatentes das FARC e do ELN têm entrado em confronto recentemente com membros urabeños em Antioquia, segundo relatos sobre a produção de coca.

“O ELN e os Urabeños estão começando a ponderar sobre quem vai preencher o vácuo quando as FARC partirem”, disse Bargent. “O que eu tenho ouvido é que os Urabeños estão encorajando as pessoas a voltar à coca [saindo da mineração de ouro], e estão pagando às pessoas mais pelo quilo da folha do que os guerrilheiros. Estão tentando se posicionar para quando as FARC começarem a afastar-se. ”

A cocaína colombiana normalmente flui para o norte, até a América Central e o México, por rotas marítimas — muitas vezes através de “narcossubmarinos” semissubmersíveis, que podem transportar até 14.000 libras por remessa. Barcos convencionais também despejam cargas no Caribe, com a República Dominicana emergindo como um ponto-de-transbordo-chave para a cocaína em seu caminho para a Europa e EUA.

“Não quero desafiar a lógica econômica e dizer que a oferta cria a demanda, contudo, até certo ponto, é essa a impressão que se tem” .

“Entre 2004 e 2007, pelo menos dois centros de transbordo distintos surgiram na África Ocidental: um centrado em Guiné-Bissau e na Guiné, e outro centrado em Bight de Benin que se estende desde Gana até Nigéria. Os traficantes colombianos transportavam cocaína pelo ‘navio mãe’ para a costa oeste africana, antes de descarregá-la para embarcações menores”, de acordo com o UNODC. “Parte desta cocaína prosseguiu adiante pelo mar à Espanha e Portugal, mas outra parte foi deixada como pagamento aos africanos ocidentais pela sua ajuda. ”

De acordo com DEA, 90 por cento da cocaína destinada aos EUA é movida através do México e da América Central. O relatório do UNODC observou que a demanda de cocaína nos EUA caiu quase pela metade desde 2006, mas o uso da América Central como ponto de transbordo levou ao surgimento de mercados domésticos de cocaína em países como Honduras e El Salvador. Steven Dudley, cofundador da InSight Crime, uma fundação que estuda o crime organizado na América Latina, diz que o fenômeno é causado em parte por traficantes que pagam seus intermediários com cocaína, ao invés vez de dinheiro.

“Na América Central, em bairros muito pobres da [cidade hondurenha de] San Pedro Sula, vimos pessoas vendendo cocaína em pó”, disse Dudley. “Superficialmente, isso não parece ser grande coisa, porém nunca tivemos isso antes. Essa é apenas uma ilustração do aumento incrível da disponibilidade de drogas nessas áreas. Não quero desafiar à lógica econômica e dizer que a oferta cria a demanda, contudo, até certo ponto, é essa a impressão que se tem” .
Uma vez que a cocaína chegue no México, grupos, como o Cartel de Sinaloa, a “pastoreiam” através de territórios regionais, chamados de “praças”, para a fronteira dos E.U.A. Antonio Mazzitelli, representante do UNODC pelo México, disse que as apreensões de cocaína no país começaram a despencar em torno de 2009, quando a violência atingiu seu pico, durante uma guerra geral entre os cartéis e o governo.

“A cocaína não estava seguindo rumo ao norte — via México — porque era muito arriscado”, disse Mazzitelli à VICE News. “Essas rotas de tráfico… não eram mais rotas seguras” .

Ele disse que as apreensões de cocaína voltaram a crescer nos últimos oito meses, uma tendência que ele ligou à destruição dos chamados Los Zetas, um grupo culpado por grande parte do derramamento de sangue na guerra às drogas no México e [ligou também] a uma consolidação de poder por parte do Cartel de Sinaloa, comandado pelo kingpin recentemente capturado Joaquim Guzman (ou “El Chapo”) e seu parceiro Ismael Zambada (ou “El Mayo”), que permanece em liberdade.

“Basicamente, o negócio, o business da droga foi interrompido pela violência”, disse Mazzitelli. “Isto é uma característica econômica normal — mais violência significa mais risco econômico para os operadores que estão locomovendo as coisas, as cargas. Agora a situação foi estabilizada.”

“O Cartel do Pacífico (Sinaloa), bem no meio da violência, estava propondo aos outros cartéis que se ajuntassem formando uma federação”, acrescentou. “Eles eram orientados a negócios; ficavam dizendo ‘Vamos parar com isso e voltar ao negócio’” .

Uma vez que um carregamento de cocaína chegue à fronteira com os EUA, os cartéis empregam uma estonteante variedade de táticas para contrabandeá-lo, inclusive escondendo drogas em remessas de bens legítimos, tendo mulas de carga humanas (de drogas) carregando cargas à pé pelo deserto e construindo longos e elaborados túneis transfronteiriços. É um jogo constante de gato-e-rato com a força policial.

“Mas é claro… os traficantes estão sempre pensando em novos métodos de transportar as coisas”, disse Mazzitelli. “Assim que o foco estiver nos túneis, os traficantes encontrarão uma nova maneira de fazer isso, usando barcos rápidos, drones não tripulados ou pequenos aviões, caminhões, carros — seja o que for, vai depender da capacidade da empresa narcotraficante”.

Heroína: Papoilas Afegãs e Triângulos Dourados

Muito parecido com o da cocaína, o fornecimento global de heroína tem origem em apenas alguns países, mas um em particular emergiu como a fonte de quase todos os problemas do mundo. De acordo com o UNODC, o Afeganistão “possui monopólio virtual sobre a produção ilícita de ópio, produzindo 6.900 toneladas em 2009 — 95% da oferta global”.

O Afeganistão tem sido uma fonte de heroína, mas o notável aumento da produção de papoila do país pode ser atribuído diretamente à invasão do país liderada pelos EUA em 2001. Naquele ano, de acordo com o UNODC, os agricultores afegãos cultivaram cerca de 8.000 hectares (20.000 acres) de plantas de papoila. Em 2014, esse número disparou para mais de 224.000 hectares (553.500 acres). A planta, que fora proibida sob o regime talibã, agora financia a insurgência em curso do grupo contra o governo apoiado pelos EUA em Cabul.

“Existe uma relação simbiótica entre a insurgência e o narcotráfico organizado”, escreveu o Departamento de Estado dos EUA em seu relatório de 2015 sobre o comércio global de drogas. “Os traficantes fornecem armas, financiamento e outros tipos de apoio material aos insurgentes em troca da proteção das rotas de comércio de drogas, campos de cultivo, laboratórios e organizações do tráfico”.

O Afeganistão fornece quase toda a heroína consumida na Europa, Oriente Médio e África, ao mesmo tempo em que também domina uma parcela considerável do mercado em partes da Ásia, Pacífico e América do Norte. O UNODC estima que o negócio global de heroína esteja avaliado em US$ 55 bilhões anuais, e o Afeganistão produz em torno de 375 toneladas da droga a cada ano, estima-se. Isso é significativa e quantitativamente mais do que os dois maiores produtores de heroína — México (26 toneladas por ano, de acordo com os EUA) e Mianmar (cerca de 50 toneladas, pelo UNODC) — combinados.

Historicamente, a heroína afegã entrou na Europa através do que se conhece como “a rota dos Balcãs”, um caminho terrestre que se estende para o oeste através do Irã, Turquia e Grécia e até a Sérvia, a Hungria e outras nações dos Balcãs. O UNODC observa que esta rota é “extremamente bem organizada e lubrificada com corrupção”. Outro caminho, a “Rota do Norte”, envia heroína para a Rússia através dos países “-istão”: Tajiquistão, Uzbequistão, Turquemenistão e Cazaquistão.

“Cerca de um terço da heroína produzida no Afeganistão é transportada para a Europa através da rota dos Balcãs, ao passo que um quarto é traficado para o norte da Ásia Central e da Federação Russa ao longo da rota do norte”, diz o UNODC. “A heroína afegã também está atendendo cada vez mais à crescente demanda asiática, estimando-se que cerca de 15-20 toneladas sejam traficadas para a China, enquanto que outras 35 toneladas sejam traficadas para outros países do Sul e do Sudeste Asiático”.

Um desenvolvimento recente tem dado conta de que mais heroína afegã — cerca de 35 toneladas métricas por ano — seja enviada através do Oceano Índico a partes da África Oriental e Austral. O UNODC disse que também está ficando cada vez mais comum que traficantes de heroína usem suas redes para contrabandear haxixe, metanfetamina e outros produtos ilícitos.

“Até certo ponto, também houve uma mudança no foco das próprias rotas de tráfico, mesmo”, escreveu o UNODC. “Há cada vez mais provas de que as rotas tradicionalmente utilizadas para o contrabando de um tipo de droga estejam sendo usadas para o contrabando de outros tipos de drogas”.

De acordo com a Polícia Real Montada Canadense, pelo menos 90 por cento da heroína apreendida no Canadá de 2009 a 2012 veio/saiu do Afeganistão. Esse é um forte contraste com os Estados Unidos, onde a grande maioria da heroína agora vem do México. O UNODC atribui o recente aumento da dependência de heroína nos EUA a “mudanças na formulação de OxyContin, um dos principais opioides prescritos que são mal utilizados, bem como um aumento na disponibilidade de heroína e uma diminuição em seu preço, em algumas partes do país.”

Papoilas de ópio podem ser encontradas em quase todas as regiões do mundo, mas eles foram introduzidos no México no final de 1800 por imigrantes chineses. A planta é cultivada principalmente por camponeses empobrecidos em partes montanhosas dos estados de Guerrero e Nayarit, e no chamado Triângulo Dourado, uma região sem lei nas fronteiras de Sinaloa, Durango e Chihuahua. O cartel de Sinaloa controla a maior parte da produção de heroína, e a organização começou a passar da produção de heroína de “alcatrão negro” de qualidade inferior ao “branco da China” — que lhe é superior, mais lucrativa e apreciada pelos consumidores do nordeste dos Estados Unidos.

Durante anos, a Colômbia foi o principal fornecedor de “branco da China” nos EUA, mas a produção de papoila tem diminuído constantemente no país, durante a última metade da década atual. Bargent — o experto em crime organizado, e correspondente colombiano — disse que os mexicanos têm intensificado seus esforços de modo a atender a demanda americana.

“Todas as evidências apontam para um declínio maciço [na produção colombiana de heroína], e isso se deve, em grande parte, aos mexicanos estarem ‘preenchendo’ esse mercado”, disse Bargent. “O que parece estar acontecendo é os mexicanos estarem produzindo um produto de melhor qualidade e alternando-se para mercados anteriormente dominados pelos colombianos, e eu não acho que haja qualquer força contra essa maré”.

A única outra região produtora significativa de heroína jaz num outro Triângulo Dourado: a região de fronteiras entre Myanmar, Laos e Tailândia. O cultivo de papoila é baixo, em geral, em Mianmar mas é um tanto maior em partes orientais do país afetadas por conflitos, que permanecem sob o controle de senhores de guerra e de grupos como o Estado Armado Unido Wa, um grupo rebelde com uma força de 20.000 cabeças, o qual está fortemente envolvido no comércio de narcóticos. De acordo com Tun Nay Soe, coordenador do programa do UNODC para a Ásia Oriental, estima-se que 90 por cento da heroína produzida em Mianmar vá direto pra China, com os 10 por cento restantes indo para outros países no Sudeste Asiático.

Jeremy Douglas, representante regional do UNODC do Sudeste Asiático, disse que as fronteiras relativamente fracas no Triângulo Dourado tornam-no propício para a exploração por contrabandistas. O produto move-se, em terra, à norte para a China, ou em barcos ao longo do Rio Mekong e pela região inteira.

“Entre Laos e Tailândia, você tranquilamente consegue a maioria das coisas”, disse Douglas. “Não é bem um bicho de sete cabeças. O mesmo ocorre na Tailândia e em Mianmar — os fluxos não são, na prática, impedidos pelo controle de mecanismos que haveriam na maior parte das fronteiras, por eles não terem capacidade de proteção”.

Altos funcionários da China, Laos, Mianmar, Tailândia e Vietnã se reuniram na ONU para um “evento paralelo”, afim de discutirem o desenvolvimento de “uma resposta regional coordenada à produção de drogas”. Douglas, que organizou a discussão, disse que a melhoria da segurança nas fronteiras estava na agenda, mas que foi encorajado pelos apelos para um maior “equilíbrio” na abordagem coletiva às drogas, na região. A maioria das nações das regiões tem duras leis sobre drogas — a China rotineiramente coloca criminosos de drogas para a morte — e oferecem pouco acesso à reabilitação para viciados.

“Eles precisam olhar para a demanda por drogas, que é inabalável e não para de crescer”, disse Douglas. “Enquanto a demanda estiver lá, o crime organizado irá ao seu encontro”.

Metanfetamina: Lucros Enormes e ‘Superlaboratórios’

A demanda por metanfetaminas tem aumentado desde a última cúpula da ONU sobre drogas em 1998, e ficou sendo uma das substâncias ilícitas mais populares e rentáveis em quase todos os cantos do mundo. Da Austrália e da Ásia à África e América do Norte: a metanfetamina é a droga em cartaz para a economia global do narcotráfico.

As quantidades de metanfetamina confiscadas pelas autoridades na última década refletem sua elevação de produção. De acordo com o UNODC, as apreensões de metanfetamina quase quadruplicaram de 24 toneladas em 2008 para 114 toneladas em 2012. As apreensões de metanfetamina no México aumentaram de 341 quilos em 2008 para 44 toneladas em 2012. Na Austrália, as apreensões de metanfetamina, lá, aumentaram mais de 400% em um único ano, passando de 426 quilos em 2011 para 2.269 quilos, em 2012.

Douglas disse que parte do apelo da metanfetamina para traficantes de drogas é: sobrecarga de demanda e custos iniciais relativamente baixos. A produção de heroína exige o pagamento de centenas de agricultores para cultivar culturas que podem produzir apenas uma quantidade limitada de goma de papoila por colheita. Para a metanfetamina, é preciso apenas um carregamento de produtos químicos relativamente fáceis de se obter e um pouco de conhecimento científico. A droga pode ser enviada para países como a Austrália, que oferece o preço mais alto por quilo de metanfetamina em qualquer lugar do mundo, e vendido por um lucro enorme.

“Eles não precisam empregar milhares de agricultores para produzir materiais de partida/materiais iniciais”, disse Douglas. “Basicamente, eles só precisam ter acesso aos precursores (substâncias bioquímicas); é um modelo de negócios muito integrado e mais rentável para o crime organizado do que a heroína”.

Um novo desenvolvimento disso, de acordo com Douglas e Soe, é que empresas farmacêuticas indianas estão fornecendo fabricantes de metanfetamina em Mianmar, com ingredientes de laboratório necessários. As autoridades têm interrompido embarques de milhões de pílulas de pseudoefedrina enquanto em curso, cruzando desde o leste da Índia até a fronteira “porosa” com Mianmar. Os funcionários do UNODC disseram que as pílulas foram fabricadas recentemente, indicando que eram provavelmente feitas sob encomenda e para fins ilícitos — ao invés de serem desviadas do uso legítimo.

Mas, na maior parte dos casos, os produtos químicos utilizados para fabricar a metanfetamina do mundo são originários da China, onde uma indústria farmacêutica em expansão fabrica todos os ingredientes brutos para produzir “gelo”, o nome comum para fragmentos vítreos de cristal de alta pureza. De acordo com os dados apresentados pelo governo chinês na UNGASS, o país apreendeu um gritante Nº de 20.338 toneladas de precursores de metanfetamina de 2009 a 2015. Apreensões policiais têm mostrado que aldeias individuais são capazes de produzir enormes quantidades da droga. Em um único dia em 2013 em Boshe — uma aldeia nordeste de Hong Kong no continente chinês — autoridades apreenderam três toneladas de metanfetamina e mais de 100 toneladas de precursores.

“[Com] metanfetamina cristalina, o líder parece ser a China, mas eles também produzem quantidades significativas nas Filipinas e na Indonésia, e também em certa medida em Mianmar”, disse Douglas. “Mas o que vimos nos últimos anos é a produção em escala industrial vinda de alguns poucos laboratórios na China”.

A DEA estima que os cartéis mexicanos produzam 90% da metanfetamina consumida nos Estados Unidos. A maioria dos micro empreendimentos caseiros de metanfetamina do centro-oeste foram colocados fora de operação por leis que restringem o acesso à medicina fria que contém pseudoefedrina precursora, e esse vazio tinha sido preenchido por um produto de alta pureza a partir dos chamados (à mexicana) “superlaboratórios”, nutridos por produtos químicos chineses.

Em um caso infame, um empresário chino-mexicano chamado Zhenli Ye Gon foi preso em 2009, após a polícia ter encontrado US$ 207 milhões em dinheiro escondidos em sua mansão na Cidade do México; ele posteriormente admitiu a venda de toneladas de precursores de metanfetamina para o Cartel de Sinaloa. Outro cartel, o dos Cavaleiros Templários, é conhecido por enviar minério de ferro extraído ilegalmente para a China, a partir de portos no estado de Michoacan, em troca de precursores de metanfetamina. (É muito evidente que não seja o mais estranho comércio de commodities registrado: fabricantes sul-africanos de metanfetamina trocam haliote caçado — um tipo de marisco prezado na China — por precursores).

A conexão entre grupos mexicanos, particularmente o Cartel de Sinaloa e os sindicatos do crime asiáticos, está bem documentada. No início do ano passado, um suposto agente do Cartel de Sinaloa, Horacio Hernández Herrera, foi preso em Manila, e as autoridades locais confirmaram, depois, que sua organização tentou alavancar e firmar sua posição no comércio doméstico de metanfetamina. Pouco depois de Herrera ter sido detido, a polícia filipina capturou 84 quilos de metanfetamina de alta qualidade de “shabu” no valor de 9,4 milhões de dólares e prendeu três suspeitos com alegadas ligações com o Cartel de Sinaloa.

Mazzitelli, representante do UNODC no México, destacou que o Cartel de Sinaloa também tem sido associado a operações de manufatura de metanfetamina, indo tão longe à ponto de chegar na Nigéria. No mês passado, as autoridades do estado de Delta Asaba, no país, prenderam quatro mexicanos e desmantelaram um “superlaboratório” que teria a capacidade de produzir quatro toneladas de metanfetamina por semana.

“Eles estão em toda parte”, disse Mazzitelli sobre o Cartel de Sinaloa. “Eles têm plena capacidade de negociar com grupos criminosos nigerianos, grupos criminosos europeus — eles fornecem a todos, são homens de negócios”.

Ele comparou o cartel a uma empresa “multinacional”, e citou o “espírito empreendedor” dos traficantes mexicanos e a “veia técnica” que os sinaloanos têm sobre seus concorrentes como razões para a expansão global do grupo.

“Nestes últimos 15 anos, eles transformaram o negócio de drogas ilícitas em um negócio de caráter mundial”, disse ele. “Eles estão em toda parte e têm a capacidade de aproveitar a globalização da demanda por drogas ilícitas e têm a capacidade de fornecer todos os tipos de drogas em todos os lugares”.

 

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